segunda-feira, 30 de julho de 2012

CEOs gays preferem o silêncio para evitar a exposição da empresa.


(Por Leslie Kwoh | Do The Wall Street Journal)

Beth Brooke, vice-presidente global de políticas públicas da Ernst & Young, assumiu ser gay após 20 anos de empresa. Por quase duas décadas, a executiva da Ernst & Young Beth Brooke percorreu o escritório como se ele fosse um campo minado, evitando as conversas ao bebedouro por temer que alguém a deixasse embaraçada com alguma pergunta pessoal. Ela diz que os colegas cochichavam pelos cantos que ela era uma "solitária", abalada por um possível divórcio, ou talvez reclusa por natureza.



Mas Brooke estava ficando cansada de se esconder, especialmente após ser sondada para comandar os esforços de diversidade e inclusão da companhia. Portanto, no ano passado, enquanto pregava a sinceridade em um vídeo patrocinado pela empresa para a campanha "It Gets Better", ela reescreveu o roteiro. "Sou gay", disse ela, olhando direto para a câmera. "E venho lidando com isso há muitos anos."

Assim como Brooke, 53, uma vice-presidente global de políticas públicas, alguns altos executivos estão botando o pé para fora do armário. Muitos descrevem suas experiências de revelação da condição gay como inesperadamente indolores - a maioria diz que se deparou com um apoio impressionante. Eles afirmam que o desempenho no trabalho aumentou porque se sentem mais à vontade entre os colegas. "A vida realmente melhorou", diz Brooke.

Mas se os gays estão tendo uma aceitação maior na vida corporativa, por que tantos executivos graduados fazem segredo de sua sexualidade? Ser gay no mundo dos negócios ainda está longe de ser uma questão "irrelevante", afirma Deena Fidas, vice-diretora de programas corporativos da Human Rights Campaign, o maior grupo de defesa dos direitos das lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros dos Estados Unidos. As companhias legalmente ainda podem demitir um trabalhador por ele ser gay em 29 estados americanos, por exemplo, e muitos preconceitos sutis persistem no ambiente de trabalho, segundo o grupo.

Não há um único executivo-chefe declaradamente gay na "Fortune 1000" [ a lista das mil maiores empresas americanas], segundo a Human Rights Campaign. (O único executivo-chefe declaradamente gay, o ex-presidente da Urban Outfitters Glen Senk, deixou a companhia em janeiro e hoje comanda a varejista de joias David Yurman.)

Isso não quer dizer que não existam CEOs gays nesse grupo, observa Kirk Snyder, um consultor especializado em diversidade que trabalha com empresas da "Fortune 500" e já escreveu vários livros sobre a homossexualidade no local de trabalho. Com base em suas pesquisas e contatos do setor, ele afirma conhecer pelo menos 10 CEOs que ainda não saíram do armário. "Eles temem ser boicotados pelos consumidores se souberem que a companhia é comandada por um CEO gay."

O ex-presidente-executivo da BP John Browne, que perdeu o cargo em 2007 em meio a revelações de que mentiu em um tribunal sobre como conheceu seu ex-namorado, diz que não se revelou durante o período em que trabalhou na gigante do petróleo por temer prejudicar suas relações profissionais - especialmente no Oriente Médio, onde o homossexualismo é punido com a morte em alguns países. "Achei que iria prejudicar tudo", explica.

No final das contas, ele pode ter perdido um cliente ou dois, mas o sofrimento cobrou um preço maior. "Você esconde coisas. É uma vida dupla", afirma. Outro fator que também impede executivos de se revelarem são as culturas corporativas e os conselhos "homofóbicos". "As corporações são muito conservadoras e quanto maior a empresa, mais conservadora", acrescenta Browne.

Rick Welts foi CEO e presidente do Phoenix Suns - um time de basquete da National Basketball Association (NBA) - quando assumiu ser gay no ano passado, e sabe muito bem o que é se esconder em um ambiente conservador. O mais bem-sucedido executivo do setor esportivo a se declarar gay até agora, Welts, 59, diz que manteve sua homossexualidade em segredo para proteger a imagem de sua equipe e sempre sofria em silêncio quando colegas faziam piadas sobre homossexuais.

"A última coisa que alguém em uma posição como a minha quer fazer é afetar negativamente a companhia para a qual trabalha e luta todos os dias para promover", diz ele, hoje presidente e diretor operacional do time de basquete Golden State Warriors.

Deve ser por isso que você ouve dizer que as pessoas "saem do armário na festa de aposentadoria", afirma Todd Sears, fundador do Out on the Street, um encontro LGBT anual sobre liderança na indústria financeira. (Ou mesmo mais tarde: quando a primeira mulher astronauta dos EUA, Sally Ride, morreu dias atrás, seu obituário revelou que ela teve uma parceira por 27 anos.)

A ansiedade constante pode atrapalhar o desenvolvimento profissional, especialmente para os administradores, segundo afirma o psicólogo clínico Ritch Savin-Williams, que comanda o Laboratório de Sexo & Identidade Sexual da Cornell University. A energia que se gasta sofrendo com perguntas simples como "o que você vai fazer neste fim de semana?", ou por que alguém chega só a uma festa da companhia, pode afetar o trabalho, afirma.

Beth Brooke diz que hoje os líderes estão sob uma pressão crescente para serem "autênticos" com os colegas, o que frequentemente significa demonstrar vulnerabilidade - uma tarefa especialmente tensa para trabalhadores não assumidos.

Mark Stephanz, 50, vice-presidente do conselho de administração do Bank of America Merrill Lynch, diz que finalmente decidiu admitir ser gay em 2007, porque não queria colocar sobre seus três filhos o fardo de precisar manter um segredo na escola, onde eles interagiam com filhos de seus clientes. Assumir-se diante da empresa onde trabalhou por décadas foi um processo delicado e emotivo, mas ele diz que ficou aliviado ao descobrir que "a maioria das pessoas continua tratando você da mesma maneira que antes".

Browne, 64, diz que se arrepende de não ter assumido antes. Ele acreditava que manter o trabalho separado dos assuntos pessoais era melhor para os dois mundos, mas hoje discorda dessa filosofia. Stephanz afirma que seu maior desafio tem sido lidar com os clientes, que nem sempre são receptivos. Agora, ele costuma levar o namorado em atividades relacionadas ao trabalho, mas evita isso quando sente que poderá colocar um cliente "em posição desconfortável".

Lloyd Blankfein, presidente-executivo do Goldman Sachs Group, que descreve as políticas de seu banco amigáveis aos gays como cruciais para a manutenção de talentos, disse durante a conferência Out on the Street, em maio, que perdeu pelo menos um cliente desde que revelou publicamente que apoia o casamento gay. "Sempre há um preço a pagar, mas não me importo." 

(Tradução de Mario Zamarian)

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