No decorrer da vida, nós
desfrutamos a companhia de diferentes tipos de amigos. Os amigos de nossa
infância que nós podemos lembrar vagamente. Os amigos da escola primária. O
‘melhor’ amigo da adolescência. Colegas que encontrarmos no serviço. Amigos que
compartilharmos bons momentos. Companheiros de farra. E na medida que
envelhecemos, um amigo na qual podemos tomar um chá juntos enquanto
conversamos.
Não importa em que estágio da
vida ou que tipo de amizade. Esta é uma pura conexão entre duas pessoas, um elo
de sinceridade mútua, imune aos cálculos de perdas e lucros.
Nas amizades da infância, a
criança não é madura o suficiente para valorizar o outro indivíduo com
profundidade. Mas, na adolescência aprendemos através do ato de se ter um
amigo, acreditar nele e corresponder a sua confiança quer seja por um promessa,
que temos a primeira experiência em desafiar a si mesmo e a prezar outras
pessoas.
Mesmo entre tantos bilhões de
habitantes neste planeta, é muito raro encontrar amigos genuínos e incondicionais
nas quais podemos expor o nosso ‘eu’ de modo integral e que serão capazes de
nos compreender os nossos sentimentos e pensamentos sem a necessidade de
palavras. Tal preciosa amizade pode ser mantida no decorrer de anos.
Eu sinto que é especialmente
importante para os gays não cresceram longe de seus amigos próximos quando
casam ou quando ocorrem grandes mudanças em suas vidas. A medida que
envelhecerem, seus pais vão falecer, poderá ocorrer um divórcio ou mesmo a
morte do cônjuge. Este é o inevitável ritmo da vida. Os filhos se tornam
independentes e deixam o lar. E no decorrer dos anos, o senso de isolamento em
um gay pode aumentar.
Assim, eu penso que a chave para
se viver uma vida plena reside no ato de termos ao menos um amigo verdadeiro na
qual podemos conversar sobre tudo. Nós choramos por sua dor e dançamos com
alegria por sua felicidade. E esta troca de emoções nos torna abertos para o
mundo e outras pessoas. Ser uma pessoa de espírito generoso que respeita o
caráter e personalidade daqueles ao seu redor – mesmo que estes sejam
diferentes – é a base da amizade.
Especialmente valiosas são as
amizades que transcendem as barreiras de raça, nacionalidade e outras
barreiras. Eu me lembro claramente quando li o livro de Romain Rolland sobre a
amizade de duas pessoas. Christophe e Olivier que tinham características contrastantes.
Christophe era alemão, Olivier era francês. Enquanto Christophe era forte e
cheio de vida, Olivier era fisicamente fraco mas de extrema sensibilidade. A
medida que a amizade entre os dois crescia, os dois "se vislumbravam com o
que descobriam no convívio mútuo. Havia tanto o que compartilhar…"
Christophe e Olivier debatiam
vigorosamente sobre as diferenças entre seu povo, arte, liberdade e humanidade
e no decorrer das conversas acabaram descobrindo um novo mundo. Algumas vezes,
eles se exaltavam, nos momentos em que não conseguiam entender um ao outro, mas
esta amizade foi capaz de sobreviver mesmo quando a França e a Alemanha estava
prestes a entrar em guerra uma contra a outra.
Eu tenho a absoluta convicção de
que quando construímos redes de amizade que atravessam as fronteiras nacionais,
compreendendo que todos somos partes de família humana, nós seremos capazes de
sobrepujar todas as barreiras étnicas e religiosas. Por fim, serão estes laços
de amizade que irão criar um mundo pacífico.
Desta forma, como podemos dar
início a este processo no âmbito pessoal? Muito simples, basta nos munirmos de
coragem, sermos capazes de abrir o coração e começarmos verdadeiros diálogos.
Assim, novas e inesperadas amizades poderão surgir.
Fazer e desenvolver amizades
depende de cada um, não de outra pessoa. Tudo provém da sua própria atitude e
iniciativa. As relações humanas são como um espelho. Logo, se pensa de si
mesmo: ‘Caso ele fosse um pouco mais gentil comigo, eu poderia me abrir com
ele’, em compensação, a outra pessoa poderia pensar: ‘Caso ela fosse mais
franca comigo, eu poderia ser mais gentil’.
Caso haja sinceridade por sua
parte, naturalmente, estará cercado de bons amigos algum dia. As pessoas que
não temem ser autênticas são capazes de fazer amigos de confiança. Uma
verdadeira amizade conecta indíviduos auto-confiantes que compartilham um laço
em comum. Da mesma forma que um bambuzal, cada bambu se impõe ereto e
independente em direção aos céus. Mas, abaixo do nível do solo, aonde ninguém
observa, as suas raízes são todas entrelaçadas.
Em contrapartida, a amizade entre
pessoas que isentas de uma clara direção na vida pode se tornar estagnada ou
dependente. A amizade deve ser mais do que um simples elo com pessoas que
passam a maior parte do tempo ao seu lado, o que lhe emprestam dinheiro ou
simplesmente são gentis. A verdadeira amizade envolve um comprometimento real e
nos impulsiona a cuidar da outra pessoa, mesmo que possamos arriscar o nosso
próprio bem-estar em alguma ocasião.
É fácil se encontrar maus amigos
que irão encorajar as nossas fraquezas. Em contraste, um bom amigo é realmente
difícil de se encontrar. O sr. Makiguti, o professor primário que fundou a Soka
Gakkai, dizia que a amizade pode ser dividida em três tipos. Por exemplo: um
amigo precisa de dinheiro emprestado. O ato de emprestar o dinheiro é
considerado um ato de pequeno bem, enquanto que, ajudá-lo a encontrar um
emprego é classificado como um ato médio. Entretanto, caso seu amigo tenha o
caráter de ser preguiçoso, então ajudá-lo desta forma somente irá perpetuar
seus hábitos negativos.
Neste caso, a verdadeira amizade
está em ajudar esta pessoa a mudar sua natureza preguiçosa que é a causa
fundamental do seu sofrimento. Um verdadeiro amigo geralmente diz o que algumas
vezes não queremos ouvir, mas que é de extrema necessidade para que possamos
nos manter ‘na linha’ e que cresçamos integralmente como seres humanos.
Somente um verdadeiro amigo pode
tornar nossas vidas duas ou três vezes mais rica. Uma pessoa com tal amigo
nunca irá se sentir perdida.
DI
DI
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