segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

12.02.12 - Amigos...


No decorrer da vida, nós desfrutamos a companhia de diferentes tipos de amigos. Os amigos de nossa infância que nós podemos lembrar vagamente. Os amigos da escola primária. O ‘melhor’ amigo da adolescência. Colegas que encontrarmos no serviço. Amigos que compartilharmos bons momentos. Companheiros de farra. E na medida que envelhecemos, um amigo na qual podemos tomar um chá juntos enquanto conversamos.
Não importa em que estágio da vida ou que tipo de amizade. Esta é uma pura conexão entre duas pessoas, um elo de sinceridade mútua, imune aos cálculos de perdas e lucros.
Nas amizades da infância, a criança não é madura o suficiente para valorizar o outro indivíduo com profundidade. Mas, na adolescência aprendemos através do ato de se ter um amigo, acreditar nele e corresponder a sua confiança quer seja por um promessa, que temos a primeira experiência em desafiar a si mesmo e a prezar outras pessoas.
Mesmo entre tantos bilhões de habitantes neste planeta, é muito raro encontrar amigos genuínos e incondicionais nas quais podemos expor o nosso ‘eu’ de modo integral e que serão capazes de nos compreender os nossos sentimentos e pensamentos sem a necessidade de palavras. Tal preciosa amizade pode ser mantida no decorrer de anos.

Eu sinto que é especialmente importante para os gays não cresceram longe de seus amigos próximos quando casam ou quando ocorrem grandes mudanças em suas vidas. A medida que envelhecerem, seus pais vão falecer, poderá ocorrer um divórcio ou mesmo a morte do cônjuge. Este é o inevitável ritmo da vida. Os filhos se tornam independentes e deixam o lar. E no decorrer dos anos, o senso de isolamento em um gay pode aumentar.
Assim, eu penso que a chave para se viver uma vida plena reside no ato de termos ao menos um amigo verdadeiro na qual podemos conversar sobre tudo. Nós choramos por sua dor e dançamos com alegria por sua felicidade. E esta troca de emoções nos torna abertos para o mundo e outras pessoas. Ser uma pessoa de espírito generoso que respeita o caráter e personalidade daqueles ao seu redor – mesmo que estes sejam diferentes – é a base da amizade.
Especialmente valiosas são as amizades que transcendem as barreiras de raça, nacionalidade e outras barreiras. Eu me lembro claramente quando li o livro de Romain Rolland sobre a amizade de duas pessoas. Christophe e Olivier que tinham características contrastantes. Christophe era alemão, Olivier era francês. Enquanto Christophe era forte e cheio de vida, Olivier era fisicamente fraco mas de extrema sensibilidade. A medida que a amizade entre os dois crescia, os dois "se vislumbravam com o que descobriam no convívio mútuo. Havia tanto o que compartilhar…"

Christophe e Olivier debatiam vigorosamente sobre as diferenças entre seu povo, arte, liberdade e humanidade e no decorrer das conversas acabaram descobrindo um novo mundo. Algumas vezes, eles se exaltavam, nos momentos em que não conseguiam entender um ao outro, mas esta amizade foi capaz de sobreviver mesmo quando a França e a Alemanha estava prestes a entrar em guerra uma contra a outra.
Eu tenho a absoluta convicção de que quando construímos redes de amizade que atravessam as fronteiras nacionais, compreendendo que todos somos partes de família humana, nós seremos capazes de sobrepujar todas as barreiras étnicas e religiosas. Por fim, serão estes laços de amizade que irão criar um mundo pacífico.
Desta forma, como podemos dar início a este processo no âmbito pessoal? Muito simples, basta nos munirmos de coragem, sermos capazes de abrir o coração e começarmos verdadeiros diálogos. Assim, novas e inesperadas amizades poderão surgir.
Fazer e desenvolver amizades depende de cada um, não de outra pessoa. Tudo provém da sua própria atitude e iniciativa. As relações humanas são como um espelho. Logo, se pensa de si mesmo: ‘Caso ele fosse um pouco mais gentil comigo, eu poderia me abrir com ele’, em compensação, a outra pessoa poderia pensar: ‘Caso ela fosse mais franca comigo, eu poderia ser mais gentil’.
Caso haja sinceridade por sua parte, naturalmente, estará cercado de bons amigos algum dia. As pessoas que não temem ser autênticas são capazes de fazer amigos de confiança. Uma verdadeira amizade conecta indíviduos auto-confiantes que compartilham um laço em comum. Da mesma forma que um bambuzal, cada bambu se impõe ereto e independente em direção aos céus. Mas, abaixo do nível do solo, aonde ninguém observa, as suas raízes são todas entrelaçadas.

Em contrapartida, a amizade entre pessoas que isentas de uma clara direção na vida pode se tornar estagnada ou dependente. A amizade deve ser mais do que um simples elo com pessoas que passam a maior parte do tempo ao seu lado, o que lhe emprestam dinheiro ou simplesmente são gentis. A verdadeira amizade envolve um comprometimento real e nos impulsiona a cuidar da outra pessoa, mesmo que possamos arriscar o nosso próprio bem-estar em alguma ocasião.
É fácil se encontrar maus amigos que irão encorajar as nossas fraquezas. Em contraste, um bom amigo é realmente difícil de se encontrar. O sr. Makiguti, o professor primário que fundou a Soka Gakkai, dizia que a amizade pode ser dividida em três tipos. Por exemplo: um amigo precisa de dinheiro emprestado. O ato de emprestar o dinheiro é considerado um ato de pequeno bem, enquanto que, ajudá-lo a encontrar um emprego é classificado como um ato médio. Entretanto, caso seu amigo tenha o caráter de ser preguiçoso, então ajudá-lo desta forma somente irá perpetuar seus hábitos negativos.
Neste caso, a verdadeira amizade está em ajudar esta pessoa a mudar sua natureza preguiçosa que é a causa fundamental do seu sofrimento. Um verdadeiro amigo geralmente diz o que algumas vezes não queremos ouvir, mas que é de extrema necessidade para que possamos nos manter ‘na linha’ e que cresçamos integralmente como seres humanos.
Somente um verdadeiro amigo pode tornar nossas vidas duas ou três vezes mais rica. Uma pessoa com tal amigo nunca irá se sentir perdida.
DI

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