segunda-feira, 7 de março de 2011

06.03 - Pedal de Carnaval


(por Guto Lanfranchi)

Pouco mais de dois anos depois de ter pendurado a bicicleta, por conta de uma queda que interrompeu uma bem sucedida sequência de passeios com diversos grupos em São Paulo, voltei às ruas da cidade na companhia ilustre dos amigos do SPGB - e tive a oportunidade de reencontrar o prazer das pedaladas urbanas no roteiro da Ciclovia Rio Pinheiros.

A idéia de fazer a revisão da bike e me aventurar nas ruas novamente veio depois de acompanhar as postagens do Kiko no Facebook e de ter recebido um convite do Cesar para o passeio de carnaval.Finalmente, após um sábado chuvoso sem grandes expectativas de realizar o projeto, olhei pela janela no domingo de manhã e vi uma nesga de azul entre as nuvens. Só podia ser um sinal! Saí correndo de casa e peguei a bike recém chegada da oficina, ainda no porta-malas do carro. Depois de um rápido reconhecimento das coisas básicas (como trocar as marchas, por exemplo...) que já julgava esquecidas, subi a Rebouças em direção à frutaria, sentido bater no rosto o ar de uma manhã de verão estranha e agradavelmente fresca, perfeita para meu reencontro com o pedal.

Ao chegar ao local de encontro fui muitíssimo bem recepcionado pelo Cesar, pelo Kiko e pelo Carlos, e me senti imediatamente à vontade com o grupo e com o planejamento do passeio. Decidido o destino, nos equipamos e descemos em direção à Marginal do Rio Pinheiros, para seguir em direção a Interlagos. O caminho estava tranquilo, a conversa ótima e logo encontrei diversos pontos de afinidade com todos. Falamos sobre arquitetura, teatro, tecnologia, urbanidade, e o tempo foi passando como a paisagem que se transformava a cada bairro percorrido.

Já na ciclovia, pouco movimentada devido ao êxodo causado pelo feriado de carnaval, o ritmo ficou mais forte, e eu, que não conhecia nada do percurso, fiquei muito bem impressionado com a infra-estrutura posta recentemente à disposição dos ciclistas paulistanos, e que deve evoluir ainda mais. O vento estava contra nós na ida, e as paradas nos postos de apoio foram muito bem vindas. A perspectiva da cidade que se descortinava para mim era muito diferente da habitual: o som do trem, o cheiro do rio, o esforço físico e a paz de espírito ao lado da Marginal são coisas inconcebíveis de serem vividas no dia-a-dia do automóvel. Detalhes surgiam, como os elementos decorativos em estilo art deco da ponte estaiada, por exemplo, que eu nunca tinha notado, as ruínas (ou obras inacabadas?) de estruturas metálicas inexplicáveis, as placas alertando para a presença de animais silvestres na pista. Animais silvestres no Rio Pinheiros? 


Depois da parada na extremidade final do percurso, no caminho de volta, tive a oportunidade de ver um deles, uma capivara cruzando tranquilamente a ciclovia, alheia a todo o (pouco) movimento dos ciclistas. Nuvens anunciavam chuva. Uma última parada antes da despedida no stand da casa cor (piada interna) e rumamos de volta. Fui conversando com o Cesar, que me fez o convite para escrever este relato – o qual aceitei com muita honra – e acabamos nos perdendo do Kiko e do Carlos. Cheguei em casa cansado, de alma (literalmente) lavada e feliz por ter me religado às ruas da cidade por meio das duas rodas.
Já tinha feito um único passeio com o SPGB em 2008, que tinha sido bem bacana, mas desta vez tudo pareceu diferente – e melhor, mais maduro, mais satisfatório. Foi uma manhã de domingo que entrou pra (minha) história. Me tornei fã imediato do grupo e não vejo a hora de voltar a pedalar com meus novos amigos, o que deve acontecer muito em breve.

Uma última reflexão: Já conhecia a proposta de socialização do SPGB, de seu espírito de confraternização, de sua cultura de valorização da diversidade e de sua militância pacífica e inclusiva – coisas que ficam sempre muito claras neste blog. Mas o conjunto da obra é muito mais que apenas uma boa idéia, é algo real e profundo. Vejo muitas pessoas dizerem que não frequentam o ‘meio gay’. Espero que isso não inclua um despretensioso (e delicioso) passeio de bike com gente tão interessante e inteligente – porque senão, meus caros, vocês não sabem o que estão perdendo.

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