Jean Piaget, um dos maiores estudiosos do desenvolvimento cognitivo humano, mostrou, em sua teoria, que o crescimento intelectual se dá pela adaptação ao meio no qual vive o indivíduo. As crianças, obviamente, têm mais dificuldades que os adultos para conseguir muitas dessas adaptações por ainda não conhecerem adequadamente o mundo, e, assim, quase tudo é novidade em sua vida. Por esse motivo, é necessário que seus educadores sejam altamente afetuosos, porque a afetividade é o que, principalmente, dá ao ser humano a capacidade de reagir aos sentimentos e às emoções.
Muitos não sabem o significado da palavra "afetividade". Afetuoso, ou afetivo, significa ser carinhoso, ser ‘bonzinho’ com as crianças. Todos os que são afetuosos são, logicamente, também carinhosos, porém nem todos os que demonstram carinho agem com afetividade. Ser afetivo exige envolvimento físico meigo, sim, mas exige também agir com firmeza: Um "não" tem de ser "não" mesmo, não se pode transformar em "sim"! Regras têm de existir e têm de ser respeitadas por todos. Sejamos carinhosos, mas sejamos também implacáveis na cobrança do bom comportamento.
Para Piaget, a afetividade é a mola propulsora das ações; é o que atribui valor às atividades. Quem tem vida afetiva rica sabe agir adequadamente no dia a dia e sabe tomar decisões e fazer escolhas. Quem, porém, não tem (ou não teve) educador afetuoso (educador, agora, no sentido de "aquele que cuida, que toma conta"), apesar de muitos conseguirem sucesso profissional, financeiro e social, não tem estabilidade emocional suficiente para tomar decisões de bom senso sem medo de errar. Há hesitação constante nos momentos em que ocorre a necessidade de efetivar as escolhas dos caminhos a seguir. Acerta-se, não raro, por sorte, não por saber que é a decisão adequada.
Certamente todos conhecem alguém que teve uma vida pobre em afetividade; é aquele que, quando é preciso dar sua opinião, diz a frase "o que a maioria decidir para mim está bom". A esses deveria dar-se a resposta: "A maioria decide que você não serve para este grupo, que precisa de pessoas que saibam externar o que pensa". Ou aquele que se posiciona de tal maneira que passa a ser um dos últimos a falar e diz "o que todos falaram já é o suficiente. Não há mais o que acrescentar", sem saber que sempre há um ponto de vista a ser desenvolvido. Um assunto nunca se esgota em se tratando de opiniões. Mesmo que estas sejam semelhantes, há detalhes que podem enriquecer sobremaneira um debate.
Afetividade em abundância confere segurança ao educando, que passa a ser um indivíduo perseverante em suas ações, pois estas sempre são realizadas, pelo ser humano afetivo, depois de atenta análise.
Transforma-se num ser humano que quer que seus anseios se realizem, mas que sabe que vive em comunidade e respeita também os anseios dos demais, portanto não se sente superior aos outros em situação alguma. Passa a ser uma pessoa compassiva, ou seja, uma pessoa que se coloca no lugar dos outros seres e, por isso, trata-os com humanidade, exatamente como quer que a tratem. O foco do ser humano afetuoso é o bem, o seu próprio e o da comunidade. O adulto afetuoso, então, é aquele que, sabendo que as crianças têm dificuldades para se adaptar ao meio físico e que é isso que leva ao desenvolvimento mental, age demonstrando o amor que tem por elas, mas estabelece limites às ações destas para que aprendam a viver em sociedade e não cresçam egoístas e ensimesmadas, exatamente porque as ama.
Ser afetivo significa afetar positivamente o comportamento das demais pessoas em todos os relacionamentos, sejam aprofundados ou perfunctórios, superficiais. Se em todos os encontros que efetivamos com as demais pessoas agirmos com esse pensamento em mente – afetar positivamente o comportamento das pessoas – seremos pessoas melhores e teremos relacionamentos melhores, tornando-nos num exemplo digno de ser copiado pelos mais jovens.
Com afeto, espero por você em nosso próximo passeio.
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