segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Desfile de magrelas



Sempre fui relutante para tudo. Inclusive, se relutância desse dinheiro, eu seria mais abastado que todas as Mulheres Ricas da Band juntas (o que não é o caso). E, por conta do gene nerd dominante, custei a aceitar o convite para pedalar com o pessoal do SPGB. Não havia nenhum tipo de ideia pré-concebida ou medo de exposição. Na verdade, eu só precisava achar a contramão da minha habitual introspecção e estreitar relações com o grupo. Afinal, sempre gostei de pedalar. E sempre fui gay. Então era só questão de tempo até cair a ficha do “why not?”.

           

Cesar Salvador foi insistente no convite. E depois de um ano (ou mais) ele obteve êxito. Água mole em pedra dura: foi preciso a gente se esbarrar na festa de aniversário de um amigo em comum para que eu finalmente me sentisse seguro em comparecer ao primeiro passeio. Uma experiência bastante agradável na companhia de Cesar, Carlos e (o também marinheiro de primeira viagem) Jorge. Quebrado o gelo com a melhor das impressões, eu já estava na expectativa do segundo encontro, que aconteceu neste último domingo. A manhã apresentou um clima agradável e Carlos apareceu só para não levar falta no caderno de chamada. Além de Cesar, Jorge e eu, tivemos a companhia de Nando, Celso e Manoel. E lá fomos nós desbravar os recônditos da zona oeste de São Paulo. Um passeio muito divertido que deu o que falar. Houve até um episódio bastante peculiar envolvendo um caminhão de bombeiros cheio de... hã... bombeiros.


Os passeios do SPGB surpreendem pela despretensão. A prerrogativa é simples: pessoas de orientação homoafetiva que se encontram para pedalar. Um agradável desfile de magrelas, dessas que não encontramos nas passarelas da Fashion Week (hmmm, acho que denunciei a minha idade ao chamar bike de "magrela"). E existe um exercício sendo praticado ali, além daquele que enrijece as coxas e modela o bumbum (para o deleite dos respectivos parceiros dos bikers). Estou falando do exercício da amizade. É impressionante o carinho e o cuidado que os veteranos da turma mostram com os iniciantes, dando dicas de como pedalar com segurança na cidade, falando de experiências pregressas, revelando curiosidades do trajeto. Sabe aquele tipo de interação que você não vai encontrar num perfil de rede social na internet? Não sabe? Então vem pedalar! É o tipo de atenção que faz toda a diferença. Principalmente na hora em que um caminhão de bombeiros acionou (imprudentemente) a sirene, culminando no tombo de Jorge. Por sorte foi só um susto, mas nosso querido companheiro de pedaladas não vai mais conseguir escapar das alegações de que a queda foi uma tática para chamar a atenção dos bombeiros. Talvez seja o caso de abrir a CPI do Pedal para apurar os fatos.


Se eu tivesse que sintetizar em poucas palavras a satisfação desta experiência, eu diria que é uma excelente alternativa de atividade friendly. Que oferece um real sentido de diversidade, pois se encontra ali gente de todas as idades, das mais diversas procedências. Uma forma de diversão que foge ao clichê de programas noturnos típicos da cartilha da cultura gay. Calma! Nada contra a balada! Longe disso, a noite continua sendo uma criança. Mas as manhãs de domingo já cresceram o suficiente pra pegar a estrada! O que acaba sendo uma maneira diferente de conhecer pessoas interessantes. E “interessante”, neste contexto, pode ganhar uma conotação bastante abrangente e reveladora. Inevitavelmente eu (o relutantezinho de araque) não me furto de pensar: caramba, por que não embarquei nesta ideia antes? Mas, tudo bem... Me tranquilizo de pensar que, daqui pra frente, não faltarão oportunidades de dividir asfalto com estes bikers animados!